O desejo pela perfeição que reside no Eu Superior de todo ser humano, também reside no Eu Inferior, e o que os difere é a motivação.
Essa diferença só é perceptível à medida que se tem consciência e clareza para distinguir a motivação pura (Eu Superior) da motivação egoísta (Eu Inferior), e autoconhecimento é fundamental para que essa percepção seja possível.
Por exemplo: o desejo de bondade e generosidade que se origina na alma (Eu Superior), pode estar contaminado pela motivação egoísta do Eu Inferior de querer ser percebido aos olhos de outros, como uma pessoa altruísta e valorosa, sendo assim impregnado pela energia da vaidade do Ego.
Muitas vezes esse conflito não atinge a consciência, gerando somente um desconforto e uma desconfiança quanto à natureza boa da motivação.
Somente os seres humanos, pouco desenvolvidos espiritualmente, buscam objetivos egoístas, acreditando servir a uma finalidade altruísta.
O primeiro passo é sempre reconhecer o significado dos diversos desejos, motivações e sentimentos.
Ao descobrir se o desejo de bondade vem somente da essência divina ou não, e tendo isso muito claro, ter-se-á dado mais um passo no sentido do autoconhecimento.
E ao descobrir que o desejo de bondade vem também do Eu Inferior, e aceitar plenamente o fato de que o egoísmo ocupa um lugar maior dentro de si mesmo, maior do que se estava disposto a admitir anteriormente, terá um efeito muito bom no processo evolutivo porque se estará encarando a verdade, que é sempre saudável e calmante para quem decidiu não mais lutar contra ela.
O que ocorre normalmente é que os bons desejos são sobrepostos aos desejos egoístas, que são reprimidos e mantidos no inconsciente, gerando conflitos humanos que deixam a alma doente e fraca.
Não existe ser humano ao qual não se aplique isso, de uma forma ou de outra.
Quanto mais se reprime as motivações egoístas, maiores serão a confusão e a desordem internas.
Encarar e admitir o errado, sem ceder a ele nem reprimi-lo, é a única alternativa saudável.
O início desse procedimento correto é sempre o mais difícil – classificar as emoções, descobrir seu significado, encarar tudo o que se procura não ver.
Sempre que o consciente está separado das emoções, opiniões, desejos, conclusões, etc. inconscientes, é erguida uma parede na alma humana – uma parede divisória, que separa o eu consciente do inconsciente.
Esta parede é construída de matéria sutil que é uma substância real tanto quanto a substância material do ser humano.
Em parte também é feita de covardia, orgulho, obstinação e impaciência, por desejar obter perfeição mais rapidamente pelo simples expediente de edificar essa parede e trancar por trás dela aquilo que requer muito mais tempo e esforço para eliminar de fato (distorções, deficiências, medos, insegurança, etc.).
Aquém da parede está o que se encara e conhece. Além da parede se mantém tudo que é desagradável de encarar – não apenas os defeitos e fraquezas, mas também as coisas que confundem e amedrontam o ser.
A finalidade da parede é manter o negativo oculto, e uma das motivações desse desejo é na verdade a boa vontade mal usada.
À medida que se avança no caminho do autoconhecimento e da perfeição (da alma), começa-se,vagarosamente, a tirar algumas tendências e atitudes de trás da parede. Elas passam a ficar na frente, ou seja, tornam-se conscientes.
À medida que se retira, gradualmente, o que está por trás dela, ela não somente recua como também enfraquece sua substância se o processo for feito corretamente.
Quanto mais honestidade consigo mesmo é assimilada, tanto mais profundamente ela penetra no âmago da alma.
Somente depois que a parede desaparece é que pode ocorrer o renascimento espiritual.
É preciso ficar despido, vazio, para que a substância divina possa entrar e criar raízes.
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