Para os estudiosos, “Patinho Feio” é o conto de Hans Christian Andersen que mais se aproxima de sua biografia. Assim como o personagem principal do conto, Andersen sofreu opressão diante da sociedade e humilhações por causa de suas origens sociais.
Diferentemente dos contos de fadas tradicionais, os contos de Andersen não começam com “era uma vez”. Neste aqui, analisado, duas palavras já situam o leitor diante do tempo quando a referência à estação do ano: Manhã de verão! Segue-se então a descrição do espaço com a utilização de substantivos e adjetivos que nos remetem a um local bucólico num lindo dia de verão. Ainda neste primeiro parágrafo aparece a cegonha, personagem que não aparecerá mais na narrativa, mas está presente em várias obras do autor.
Somente no segundo parágrafo, o autor revela um dos personagens principais: a mãe pata. Mesmo à beira da exaustão, a mãe choca seus ovos. O autor faz uso de onomatopeias para concretizar a história, fazendo com que o leitor adentre ao conto – seja através dos personagens, seja através dos acontecimentos.
Os ovos, finalmente, racham. Quando os patinhos nascem, o narrador, que parece contar a história, se aproxima da mãe pata e compartilha com o leitor as opiniões da mãe: “A mãe deixou que olhassem à vontade, pois o verde é sempre bom para os olhos”. Aqui o autor revela parte desta personagem: uma mãe que se interessa pelos filhos.
No entanto, um ovo não racha. Ele é diferente do outro. Uma nova personagem aparece no conto: uma pata velha que questiona a origem do ovo, afirmando que deve ser de ganso. Neste diálogo, entre a mãe pata e a pata velha, o autor ironiza a figura masculina e paterna através da fala da personagem mãe: “Todos puxaram ao pai – o patife! Não aparece nem para fazer uma visita.”
Finalmente o ovo diferente racha e, mais uma vez, o autor utiliza de humor, através da voz da mãe, para anunciar a entrada do personagem principal: “Misericórdia! Mas que patinho enorme!”
A partir do nascimento do patinho feio, a história passa a abordar uma outra questão – que de problemas mais profundos e relacionados ao tema do abandono, da inferioridade e das humilhações.
Andersen também aborda, simbolicamente, questões sociais que se faziam presentes em sua época. Os trechos da narrativa, que possuem uma crítica à sociedade de seu tempo, sempre aparecem na voz de um personagem que, por vezes, representa as hierarquias e as classes sociais daquele tempo.
Patinho feio sofre todas as humilhações, sempre resignado. O leitor é levado a compreender que Patinho Feio terá um final feliz, mas o personagem, durante toda narrativa, não tem entendimento sobre si. Somente no final do conto, quando ele vê seu reflexo na água, entende quem é de verdade.
Os personagens, na maioria animais, possuem voz, falam como gente e tem opiniões. Os primeiros homens que aparecem são caçadores, ou seja, personagens do mal que geram tensão e trazem um pouco da realidade para o conto mágico. Contudo, eles não falam, não possuem nenhuma expressão que não seja através dos sons de suas armas. O acolhimento ao Patinho Feio também não acontece na casa da camponesa e de sua família. Mais uma vez, o personagem se vê perdido, mas parece não compreender, como nós, leitores, o caminho de seu destino.
O autor também traz questões da ética e da estética ao relacionar a beleza como algo ligado à “aristocracia” e ao poder, pois os mais belos são mais fortes e bem sucedidos.
Em todo o texto, Andersen descreve as paisagens e através da natureza nos coloca dentro de um tempo/espaço.
Há passagens mais melancólicas que ganham força com a chegada do inverno. Somente com a chegada da Primavera, uma estação tão simbólica, é que Patinho Feio nada em direção aos cisnes e descobre-se como tal.
E mesmo sendo um cisne, Patinho Feio não é tomado pelo orgulho e vaidade, porque tem um bom coração.
Na finalização, Andersen, novamente, traz à narrativa princípios relacionados principalmente à ética, mas sem deixar uma moral explícita como nas fábulas.
Patinho Feio revela muito a sociedade de uma época, mas ainda é atual porque parece que pouco evoluímos e, especialmente, por que o texto retrata o ser humano e suas relações.
Prezada Deborah Brum,
Te parabenizo pela excelente analise do patinho feio.
Desejo muito de conhecer e falar com voce.
Moro em Brasilia.
Vamos encaminhar para Deborah.